segunda-feira, 4 de julho de 2011

Levando o bolo

Olá! Quanto tempo sem aparecer por aqui! Devo admitir que até senti um pouco de saudades desse espacinho cibernético...

Bom, voltando às minhas aventuras por terras portenhas, se há uma coisa que marcou minha passagem por Buenos Aires, foi, sem dúvida, os bolos que levei dos caras. Alguns inusitados e outros que eu até já esperava, mas que irritam do mesmo jeito.
São experiências com as quais aprendemos e vamos ficando mais espertas, não é verdade? Por isso, vou compartilhar aqui alguns desses momentos. Bom, se quero contar por ordem cronológica, devo arrancar com uma frustração que aconteceu aqui em São Paulo, antes mesmo de ter me mudado para a Argentina.

Conheci um rapaz argentino que tinha uma cara de cafajeste daqueles! Mas como a gente às vezes gosta de sofrer e parece aquelas mosquinhas que são atraídas catatonicamente em direção à luz, não resisti e combinei de me encontrar com o tal moçoilo, que eu havia conhecido em um encontro do Orkut, numa comunidade que congregava brasileiros e argentinos.

Combinamos em um bar perto da minha casa na época, que ficava no bairro do Itaim Bibi. Não preciso nem terminar de dizer que me arrumei toda, fiquei lá parada como uma trouxa e o cara não apareceu, né? O cara-de-pau me disse que não pôde ir. Só não conseguiu me explicar porque nem me avisou que não poderia ir e, para piorar, me deixou lá plantada. O mais extremo de tudo isso é que ele teve a capacidade de voltar a me procurar tempos depois pra me chamar pra sair, mas eu não caí na dele. Além disso, já estava prestes a me mudar para Buenos Aires. Estava seguindo a caminho de uma vida nova!

Em abril de 2006, me mudei com mala e cuia para a capital portenha e estava ávida por conhecer gente nova, fazer amizades. Além disso, tinha amigos que já viviam na cidade e poderiam ser minha base lá enquanto ia me adaptando. Um deles, o Marcelo Salvador (sempre preservo os personagens do blog, mas o dele eu faço questão de mostrar. Só pra deixar de ser mané) eu conheci através da internet. Ah, sempre a internet... Quando ainda morava aqui no Brasil, batíamos longos papos por Messenger e ele parecia ser um cara legal. Calma, essa não é a história da mulher ludibriada, que foi mandada para outro país como escrava sexual ou algo assim. Sou uma pessoa minimamente consciente a ponto de não me meter em enrascadas.

Enfim, uma vez que eu estava finalmente em Baires, combinamos de nos encontrarmos. Saímos para jantar e ele foi bem atencioso comigo. Na porta de casa, o Marcelo desligou o motor do carro esperando algo mais, acredito. Eu, por outro lado, dei um beijo em seu rosto, agradeci pelo jantar e entrei em casa. Bom, não preciso nem comentar que ele ficou decepcionado. Por certo acham que pelo fato de ser uma brasileira, vai rolar alguma coisa no primeiro encontro. Neste caso, uma ducha fria pra ele deve ter sido útil.

Logo depois disso comecei a namorar outro cara e passei alguns meses nessa condição, ou seja, não falei mais com o Marcelo. Bastante tempo depois, voltamos a manter contato. Ele despejou sobre mim todas as suas queixas sobre minha dureza com ele, mas não me afetou em nada. Fiz a coisa certa e, naquele momento, pude comprová-lo. Foi então que pediu que eu saísse com ele de novo. Pensei: por que não? Marcamos uma noite durante a semana. Fiz uma produção básica, mas sempre dá um pouco de trabalho... Sabe como é...

Ainda bem que desta vez eu estava em casa. Lógico que ele não apareceu! Eu liguei incessantemente no celular dele e nada. Aliás, estava desligado! A ira tomou conta de mim. Como o cara suplica uma chance, pede pelo amor de Deus para eu sair com ele e simplesmente não aparece? Bom, parecia que o Marcelo era uma dessas incoerências da vida. Acho que comecei aí a pratica de “deletar” as pessoas. Isto é, não fiz nada contra ele, só o bloqueei de todos os meios de comunicação que conhecia. Ele começou a me adicionar em todas as redes sociais possíveis e eu o ignorava, claro.

Um dia, não me lembro ao certo como, ele conseguiu entrar em contato comigo e chorou as pitangas, fez drama e me contou a maior lorota, dizendo que havia morado com uma namorada, que estava em processo de saída da sua cara e que, justo naquele dia, ela apareceu para buscar as coisas dela. Para não dizer que estava solteira só porque sou durona, depois de um período de incessantes súplicas do Marcelo, cedi.

Combinamos dele passar para me pegar em casa de novo. Desta vez, mais esperta, passei maquiagem etc, mas não coloquei a roupa com a qual iria sair. Só o faria no caso dele realmente aparecer. O que, pra variar, não aconteceu. Ou seja, dois tocos do mesmo homem! Esse fato me deixou enfurecida. Com ele e comigo mesma. Como pude ser tão idiota?

O mais irônico é que um belo dia, pelo menos dois anos depois, eu estava passeando com uma amiga brasileira pela loja Falabella, e eis que o vejo na fila do caixa... acompanhadooo!!! E com aliança de casado! Não me alterei, só achei uma situação ridícula. Então, o que fiz? Fui correndo pagar, claro! Ele me viu na fila atrás deles e ficou branco como um papel. E a minha cara? De sádica! (risos). Neste momento, me senti vingada.

domingo, 26 de setembro de 2010

Uma linda Primavera em Buenos Aires

Chegou a Primavera. No Brasil não dá pra perceber muito a chegada dela, pois a temperatura aqui oscila todos os dias e parece até que passamos por todas as estações em um só dia. Mas a estação mais florida do ano é bem mais especial em Buenos Aires. Depois de um inverno rigoroso, as pessoas ficam mais felizes e animadas com os dias um pouco mais quentes e agradáveis, além de que a cidade fica bem mais bonita com a presença das flores.

Não há como falar em Primavera e não pensar em Buenos Aires. Lembro-me das vezes que fui com os colegas de trabalho, na hora do almoço, fazer pic nic no parque em Puerto Madero. Levávamos comidas leves, como sanduíches e saladas, e uma manta para colocar sobre a grama. Uma delícia passar, pelo menos durante uma hora e meia, momentos tão agradáveis.

Mas outras lembranças, queira eu ou não, povoam minha cabeça nessa época... Há dois anos, em 21 de setembro de 2008, um sábado à noite, fiquei de levar amigas brasileiras que estavam passando uns dias em BA para passear na noite porteña. Marquei com um amigo do trabalho, o Pablo, e pedi a ele que levasse outros amigos. Estava tudo armado. Íamos nos divertir a valer e mostrar a night para as minhas visitantes. Mas elas resolveram que estavam cansadas e não quiseram ir. Bom, desisto e aviso ao Pablo que não vamos? Não! Ele me mataria! Sendo assim, fui eu. Sozinha. Os meninos ficaram decepcionados com a ausência das turistas, mas a noite não terminaria ali.

De um lado a outro por Palerno Hollywood, não sabíamos onde ir. Os lugares estavam todos lotados, ou caros, ou vazios demais... Finalmente, entramos no Ink Buenos Aires. Dançamos a noite toda e nos divertimos muito. Mal sabia eu que aquela noite iria me marcar tanto...

Entre os amigos do Pablo, estava um mocinho, cujo nome não quero mencionar aqui, que se aproximou de mim insistentemente depois que entramos no “local bailable”. A princípio, não havia prestado muito a atenção nele, mas, aos poucos, com sua atitude de me tirar pra dançar e olhares diferentes, foi fazendo com que eu o notasse mais. Pediu meu telefone. Opa! O rapaz parecia estar interessado mesmo. Mas eu estava tentando sacar qual era a dele realmente. No dia seguinte, trocamos mensagens e acabamos nos encontrando e... tcharammmm! Surgiu o beijo.

Com encontros e desencontros durante uma época (pretendo contar isso aqui um dia), começamos a viver um período de paixonite aguda. Por motivos que não consegui engolir nunca (sempre penso nisso), para a minha surpresa, nosso relacionamento, que ainda estava engatinhando, teve um fim. Foi um baque para mim, que estava tão apaixonada. Achava que era a pessoa perfeita pra mim, pra namorar, pra passar o tempo, pra casar, ter filhos, ou apenas passear de mãos dadas pelo parque de Vicente López. Não deu certo, mas me marcou profundamente e traz sempre à minha memória, com uma certa mescla de tristeza e nostalgia, lembranças de uma linda Primavera em Buenos Aires.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um novo recomeço

Essa semana cheguei um dia atrasada por aqui. Costumo postar sempre aos domingos, mas essa semana a preguiça foi mais forte. Devo admitir. Estou vivendo um momento de readaptação ao idioma, aos costumes, enfim, a tudo. Este, ao contrário do que a maioria das pessoas pode pensar, não está sendo um tempo de descanso pra mim, pois não paro de pensar no meu futuro, sobretudo no aspecto profissional. A cabecinha fica fervilhando permanentemente.
Faz uma semana e alguns dias que cheguei ao Brasil e estou na casa da minha mamãe, matando a saudade da minha família. Sabe, durante esse curto período de tempo aqui, parei algumas vezes para pensar nos últimos quatro anos da minha vida, nas pequenas coisas que passei em Buenos Aires. Às vezes me pego pensando: "Como as coisas podem mudar tanto de um dia para o outro, não é mesmo?". Até outro dia atravessar a Coronel Díaz para mim era algo corriqueiro, comprava media lunas na confitería da esquina. Tudo era tão normal, que não parecia que ia se acabar nunca.
Conversando com algumas pessoas mais próximas, cheguei a questionar a continuidade deste blog. Afinal, o título dele é "As aventuras de uma brasileira em Buenos Aires" e eu não estou mais lá. Mas todos com os quais falei sobre o assunto me incentivaram a seguir com o blog. Pensando bem, eles têm razão. Há um monte de histórias engraçadas, outras até bem curiosas, que ainda não contei neste espacinho cibernético. Vou continuar, mesmo porque "nadie me quita lo bailado".
Beijos e boa semana!
Nota: No fim de semana, eu estava vendo a novela das sete da Globo com a minha mãe e, em um determinado momento, ela me perguntou: "Este mocinho, quem é?". Eu a olhei com uma cara do tipo - Mãe, faz só alguns dias que estou aqui e não tenho a mais pálida idéia do que faz este personagem na trama - e ela entendeu o espírito da coisa. Essas coisas rolam quando a gente volta. Hehehe...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O adeus...

A Santa Fe virou mão dupla, o andar 17 do edifício onde eu trabalhei dois anos está sendo redesenhado, um monte de gente se casando... Realmente, é o fim de um ciclo. O momento exato para começar a escrever minha história de novo, em outro lugar.

No entanto, o processo de ir embora e deixar o passado recente não é tão fácil como eu imaginava. A melancolia bate calada e tudo é motivo para se lembrar de algo, uma recordação de um bom momento. Pra se ter idéia do quanto estou sensível, hoje fechei a conta no banco e, quando o rapaz rompeu meu cartão, me deu uma dor no coração. Parece que cada medida que tomo para a mudança tem o efeito de um golpe. Neste instante, minha visão é do meu apartamento vazio e malas cheias num canto. Não pensava que seria assim, mas isso dói.

Os dias que antecedem minha partida de Buenos Aires estão cheios de lágrimas, despedidas e surpresas. Meus amigos do escritório elaboraram um lindo presente de despedida, que me emocionou. Cartinhas escritas por cada um, uma foto de todo o grupo e dim dim (eles sabiam que minhas malas estão cheias e não entraria nem um grão mais). Muito sábios!

Bom, não precisa nem dizer que, ao ver a foto, minhas lágrimas já começaram a rolar... Há pessoas que exerciam o papel de minha família aqui, com os quais eu passava horas e horas do meu dia, todos os dias. Compartimos risadas, choro, momentos de ira e de piadas. Ouso até dizer que vou sentir saudades das músicas do Cristián. Meu Deus, é grave o que acabei de escrever! Hahaha...

A última noite inclui fechar as malas, tirar todos meus objetos do apartamento e passar esses últimos momentos aqui sozinha com meus pensamentos. Mas há lugar para mais surpresas. Eis que ouço, às 23h30, meu interfone tocar. Quem poderia ser a essa hora? Era o mocinho que trabalha na sorveteria no terreo do meu prédio, que queria me presentear com ¼ de sorvete. Pode ser que eu seja muito manteiga derretida, mas essa atitude tocou meu coração profundamente. Senti-me querida e vi que os cumprimentos sempre que passava em frente à sorveteria, a simpatia e a amabilidade podem fazer diferença no dia-a-dia. O que pode significar um pote de sorvete ou uma cartinha? Para muitos, nada especial, mas pra mim resume esses quatro anos aqui em Buenos Aires.

Encaro esta despedida como a separação de um casal. Como dois amantes, há muitas coisas das quais me arrependo ou gostaria de ter feito de forma diferente e outras que vão deixar saudades. Buenos Aires é o amor que fica e se despede, enquanto eu sou o outro lado do casal, que faz as malas e vai tentar outra sorte, com uma história intensa na bagagem.

Adiós!

domingo, 25 de abril de 2010

Último domingo

Buenos Aires vai me dando seu adeus de maneira cinza e fria. Este foi meu último domingo aqui, afinal, quinta-feira que vem estarei partindo para o Brasil, rumo a um futuro incerto. Neste momento, tudo parece ter gostinho de despedida. Passeio pelos cafés, pelas ruas, para usufruir ao máximo da vida porteña e talvez poder viver o que não vivi ou não aproveitei durante esses quatro anos.

Não chego a sentir arrependimento com relação à minha decisão de ir embora, mas estou certa de que as coisas estão rolando de maneira muito rápida e não estou tendo tempo para desfrutar esses últimos dias aqui como eu gostaria. São emoções desencontradas. Ao mesmo tempo que quero chegar logo ao Brasil e ver minha família, sinto que minha partida será como romper um cordão umbilical. Nunca será igual. Por mais que eu volte a passeio, não será igual.

Vejo minhas malas pela sala e meu apartamento quase vazio, só com alguns poucos objetos dentro dos armários, e, devo admitir, dá um nó na garganta. Passei bons e maus momentos aqui. São três anos e meio de sábados à noite sozinha neste apartamento só com a companhia de uma pizza e um DVD, de reunião com amigos, de amores mal resolvidos e outros arrebatadores...

Se alguém perguntar o que é Buenos Aires para mim, vou responder que é o todo. É a soma do meu cantinho aqui na Avenida Coronel Díaz, dos meus amigos, da rotinha que eu tinha aqui. Esse post de hoje anda meio melancólico, mas reflete como me sinto hoje, num domingo que parece ter um sorriso quase inexistente. Ando segurando a emoção, porque as lágrimas não valem a pena. Como gosto sempre de citar letras de música que tenham a ver com meus posts, deixo um trecho da canção “Basta ouvir seu coração”, do Ivan Lins e Maurício Manieri, que fez parte do desenho animado “Tigrão”. Se puder, ouça. É muito linda.
Tchau e boa semana!
Basta ouvir teu coração

O Sol quente das manhãs
As noites de luar
A vida é tudo o que se quis
Um canto de amor
Mas de repente não há mais música no ar
E tudo é diferente do que você sonhou.
Se você sentir a solidão da escuridão
Pense em quem te faz feliz
A amizade tem um querer bem
Que esteja onde estiver
Tudo vai ser como é
Basta ouvir seu coração
As lembranças vão surgir
É só você buscar
Abraços e sorrisos
Que ninguém pode apagar
Vão relembrar histórias que você já se esqueceu
Ninguém está sozinho
Se não existe adeus
Se você sentir a solidão da escuridão
Pense em quem te faz feliz
A amizade tem um querer bem
Que esteja onde estiver
Tudo vai ser como é
Basta ouvir seu coração
Há um lugar em você
Onde está a alegria de viver
Preste atenção no que essa voz diz
Em seu coração
Você não vai se perder

domingo, 18 de abril de 2010

Seleção do melhor e do pior de Buenos Aires

Na semana que passou, mais precisamente dia 15 de abril, completei quatro anos em Buenos Aires. Para alguns pode parecer muito tempo, para outros nem tanto. Só sei que nesse período, vi, vivi, comi, tomei, andei e experimentei um sem fim de experiências aqui. Por isso, nessa reta final, achei que seria legal fazer uma lista das coisas que mais gostei e das que menos gostei em Buenos Aires. Vamos lá!

· Os parques: Buenos Aires tem parques lindos, pequenos, enormes, de todos tipos, espalhados por toda a cidade. Nos dias de sol é muito legal sentar na grama, fazer um pic nic ou somente curtir a natureza ao redor.

· O sorvete: Meu Deus, o sorteve daqui é muito bom! Há os mais diversos sabores e, entre eles, o doce de leite é o mais tradicional. Pra ter uma idéia da potencia do meu consumo de sorvetes durante esses quatro anos, basta mencionar que há uma sorveteria no térreo do prédio onde eu moro e os rapazes que trabalham alí sabem meus gostos preferidos melhor que eu mesma.

· As massas: Aqui se chamam “pasta”. As massas, na sua maioria, são artesanais e deliciosas. Minha preferida é o sorrentino. Não há um tipo de massa no Brasil que corresponda ao sorrentino, ou seja, vou sentir saudades...

· Os elogios: Imagine a típica cena – mulher passando em frente a uma construção. Logo vêm à mente um monte de cantadas impronunciáveis, certo? Errado, pelo menos aqui em Buenos Aires. Pelo menos as vezes que eu tive a oportunidade de passar por uma obra, escutei coisas meigas como “hermosa” ou “bombón”. Não fere o ouvido de ninguém. Ao contrário, levanta o ego da mulherada. Então, um viva para as cantadas nas construções porteñas!

· Palermo: Não me refiro ao jogador de futebol, mas ao bairro onde morei desde que me mudei a Buenos Aires. Adoro aqui! Tem de tudo perto, as pessoas são bonitas e o nível de segurança ainda é um dos melhores da cidade. Sempre tive um pouco de resistência quando o assunto era me mudar de Palermo e tudo me leva a acreditar que eu tinha razão, afinal, esse bairro é a minha cara!

· O inverno: Faz muito frio aqui no inverno. Acredite em mim! Alguns anos são mais gélidos que outros, mas, em geral, é frio mesmo. Em 2007 nevou na Capital Federal e eu só faltava ter gelinho pindurado na orelha e nariz. Depois de um verão infernal (odeio o verão aqui, mas isso vou comentar mais adiante), o outono e primeiros meses do inverno são como refrescos para a alma. Além disso, é a oportunidade perfeita para usar casacos lindos, sobretudos, boinas, luvas e cachecóis. No fim do inverno já estamos todos de saco cheio das baixas temperaturas, mas isso já é outra história.

· Mocinhos: Os rapazes, pelo menos os porteños (não sei falar do resto do país porque viajei muito pouco dentro da Argentina), são lindos. Verdadeiros colírios para os olhos femininos. São muito frescos pro meu gosto, porque gostam de ser ignorados pelas mulheres, mas na aparência, carimbo e assino embaixo.

· As propagandas: Até me arrisco a dizer que os intervalos comerciais aqui são entretidos, porque a publicidade é criativa e, na maioria das vezes, engraçada. Um exemplo é a do bebê que vê a mãe conversando com a planta, fica com ciúme e quer ir embora de casa. Hilária! Fazia parte da campanha da Personal para o Dia das Mães em 2007. Aqui está o link: http://www.youtube.com/watch?v=n0dXKhjVfhc&feature=related. Essa daqui também é muito legal: http://www.youtube.com/watch?v=bMbGjZEBId4 .

· Bajofondo Tango Club: Forte, apaixonante. Assim poderia descrever a música desse grupo, comandado pelo talentoso Gustavo Santaolalla. Vale a pena escutá-los. Os arranjos presentes nas canções cumprem com uma das missões que a música tem ao ser criada por um autor: gerar sensações em quem as ouve. Na minha opinião, é a melhor música da Argentina e a representa muito bem.

Estão, também as coisas que não aprovei em Buenos Aires e vou preferir não me lembrar delas quando já não estiver mais aqui.

· Jornalismo: Mesmo sendo jornalista, acho que não sou tão exigente nessa questão, mas o jornalismo na Argentina não me agrada em nenhum aspecto. Nenhum! No jornal impresso sempre falta uma das informações básicas. Se a notícia é sobre um show que está por chegar à cidade, certamente, vai faltar algum dado, como onde vão fazer o espetáculo ou a data em que a banda está tocando na cidade. Já o jornalismo televisivo me revolta. O pratinho com medias lunas sobre a bancada no estúdio eu posso suportar, mas os apresentadores mandando beijinhos e fazendo piadinhas pessoais entre eles, acho que já é demais. Além disso, quando a matéria é sobre um crime, mostram a casa da vítima e do suspeito, com direito ao endereço completo. Falta ética, falta noção.

· Manifestações: Até a semana passada a rotina era sempre a mesma. De manhã me levantava, ligava a televisão enquanto me preparava para ir trabalhar. Aproveitava para escutar as notícias e a agenda dos protestos do dia pela cidade. É isso mesmo! Você não leu errado. As manifestações populares, dessas que bloqueiam as ruas e promovem o caos urbano, são divulgadas para que as pessoas possam evitá-las, se possível... São cerca de cinco marchas por dia, nas principais artérias da cidade. Tive a péssima oportunidade de ter que cruzar algumas delas e, em alguns momentos, é assustador, com pessoas com bastões de madeira e o rosto coberto. O que mais me revolta é que, na maioria das vezes, são movimentos sem um motivo concreto e a maioria das pessoas envolvidas não tem nem a mais pálida idéia do que está fazendo alí. Já os escutei reclamando sobre a situação dos Palestinos etc. Uma vez um jornalista fez uma pesquisa e saiu perguntando aos manifestantes a razão do protesto e... adivinhe???? Não sabiam, claro!

· Histeria: Isso já foi o tema de um post do meu blog, quando ainda estava hospedado no UOL. Queria esclarecer uma coisa: não se trata de gritaria ou nervos descontrolados, como muitos devem imaginar. O que chamam de histeria aqui é a típica situação em que o homem ou a mulher demonstram que não estão a fim quando, em realidade, estão. Seria o velho conhecido “não %¨&* e nem sai da moita”. Segundo o pessoal aqui, é uma espécie de estratégia para conquistar o outro. Eu, particularmente, não consigo entender esse comportamento, então resolvi nunca entrar nesse jogo. Bom, vejo que aqui quem não “histeriquea” não leva o troféu pra casa, mas mesmo assim, prefiro ser eu mesma. Direta e sincera.

· Cortes de cabelo: Mulets! Oh, my God! Homens tão bonitos com cabelos que ficaram presos nos anos 80. Na maioria das vezes são descabelados, sem corte e com aquele “rabinho” atrás. Uma verdadeira pena... Mas as mulheres não estão a salvo. Há cada corte de cabelo... Jesus! Repicado do topo da cabeça até a ponta da melena. Parece que o cabelereiro tinha mau de parkinson. Um horror!

· Calor: O que tem a primavera e o outono de agradáveis, tem o verão de insuportável. Calor, associado à altíssima umidade do ar, é igual a quase desmaio, suor e mau humor. Sem contar no metrô lotado e todos transpirados. Um nojo.

· Mau humor das vendedoras: Odeio entrar a uma loja em que haja duas vendedoras conversando entre si e que nenhuma me dê a mínima atenção. Simplesmente viro, dou as costas e vou embora. Parece que estão alí fazendo um favor para o cliente. Está também a situação em que a vendedora está dobrando roupas e prefre continuar essa tarefa em lugar de vender.

· Taxistas: Para conseguir um taxista que seja simpático e não dê golpes ou passeie você pela cidade é necessário uma boa dose de sorte. A última que aconteceu comigo foi revoltante. No fim de semana de Páscoa, depois de três dias passando mal em casa, decidi tomar um taxi e ir para o hospital. Chegando na porta da emergência, dei uma nota de 50 pesos. O taxista começou a gritar comigo porque eu não o havia avisado que ia pagar com uma nota de 50. Vamos lá, 50 pesos não é um valor tão alto assim e ele tinha que me devolver 40. Por isso, rodei a baiana ali mesmo. Afinal, tomei um taxi porque não podia andar e, naquela altura do campeonato, tinha que buscar troco para ele. Só o que me faltava! Consegui o troco num estacionamento ao lado e joguei os 40 pesos dentro do taxi. Falta de educação da minha parte? Certamente, mas a minha ira falou mais alto.

· Férias de 15 dias: A frase que mais aplica aqui seria “Ninguém merece!”. E é verdade. Poxa, vida. 15 dias de férias nos primeiros cinco anos na empresa é injusto e quase um castigo. Eu, por exemplo, usava essas duas semanas para ir visitar minha família no Brasil. Ou seja, não tinha condições de viajar a nenhum outro lugar.

· Derecho de piso: Quando escutei falar sobre o “derecho de piso” quase não acreditei. É quase como um trote de faculdade, em que os veteranos tem mais direitos e ditam as regras. Acredito no direito comum, se todos trabalham na mesma empresa, estão alí como equipe e, se começamos a fazer diferença entre as pessoas por tempo na companhia, não é igualdade.

domingo, 11 de abril de 2010

Último dia no escritório



No escritório, a cada momento que me sentia estressada ou triste, olhava pela janela ao meu lado e ficava vendo os barcos no Río de la Plata. Era uma válvula de escape, pois me sentia justo aí, no meio do rio, longe dos meus problemas. Tive momentos no trabalho que me deixaram praticamente louca, e faziam com que eu quisesse sumir do mapa.

Sexta-feira passada foi meu último dia na empresa. Pensando no que eu descrevi logo acima, seria normal pensar que me senti aliviada, não? Mas, na verdade, me emocionei e tive que conter as lágrimas no elevador ao subir ao 17° andar. É estranho. Sentada em minha mesa me dei conta de que a sensação era de que na segunda-feira estaria alí de volta e tudo seguiria igual. Trocando em miúdos, “a ficha não tinha caído”.

Passei por alguns edificios da companhia durante a semana para me despedir das pessoas com as quais havia tido contato durante os dois anos e meio de trabalho. Algumas realmente deixaram sua marca em mim e pude aprender muito com elas. E, nesse momento, o adeus custa muito. Dá um aperto no coração.






Esse capítulo ainda não teve seu fim, porque me comprometi a voltar ao escritório antes da minha partida. Quero dar o último abraço nos meus colegas. Será um turbilhão de emoções. Já sei. Mas é parte das despedidas e terei que enfrentá-lo. Coragem, Marília!